quinta-feira, 28 de abril de 2011

musica.

Cada fado nosso é uma música, as quais são todas diferentes; de uma maneira ou de outra. E todas as músicas são codificadas em pautas, que muitas pessoas não sabem ler. E, em todas as pautas existe uma clave; uma clave que pode mudar o lugar de todas as notas lá existentes. Pode ser uma clave de sol; uma música completamente tranquila, feliz e fácil de ser decifrada. Mas, pelo contrário, pode ser uma clave de fá; emocionante de ser ouvida e falada/ cantada, difícil de ser descodificada. Como em todas as músicas, há acidentes; acidentes esses que fazem com que as notas sofram alterações. Alterações que vão até ao fim da nossa música. Excepto se, por acaso, aparecer algum bequadro. Mas, mesmo que isso aconteça, não vai ser até ao fim; ou seja, o bequadro pode fazer com que a nota se torne perfeita outra vez, mas no fim, ela acaba por ficar com o seu acidente. Há também, em muitas das nossas músicas, pausas. Pausas que podem fazer com que tudo pare, para depois a nossa música entrar novamente em grande. Ou pode simplesmente parar parte dela; o seu interior por assim dizer. O que pode ser bom, ou mau. Pode fazer com que a melodia fique mais bonita, ou mais feia.
E tudo isto tem um significado; porque tudo o tem, e o que escrevo não é uma excepção. A música? É a nossa vida. Que é traçada pela clave, o nosso destino. Que pode ser calmo e tranquilo, se nos conformarmos com o que a vida simplesmente dá e tira, ou pode ser emocionante, se lutarmos até ao fim. Os acidentes são tudo aquilo que nos faz sofrer; tudo o que nos faz aprender e que nos faz crescer. E pode fazer com que mude muita coisa até ao fim da música; até ao fim da nossa vida. E os bequadros? São aqueles momentos passageiros em que pensamos que está tudo ultrapassado e que conseguimos superar tudo, e depois vem alguém ou algum acontecimento e estraga tudo; de novo. As pausas são os momentos de reflexão; em que paramos para pensar em tudo o que fizemos, nos nossos erros, nos nossos defeitos e virtudes. É nesses momentos que pensamos no que vamos fazer a seguir, no que vamos evitar fazer; é nesses momentos que pensamos em absolutamente tudo. O que pode fazer com que entremos bem novamente na vida, ou, pelo contrário, se não tivermos pensado o suficiente sobre tudo, pode fazer com que entremos mal, e estragar a nossa música. E com isto tudo esqueci-me de um elemento também essencial: o compasso. O compasso da nossa música. Binário; se partilhamos a nossa vida com uma só pessoa. Ternário, se a nossa vida for um livro aberto para duas pessoas. E quaternário, se três pessoas nos conhecerem melhor do que ninguém. Mas, para além de tudo isto, o mais importante: o que significam as notas? As notas somos nós próprios. Nos momentos felizes somos as notas que estão lá no alto; as agudas. Quando estamos em momentos horríveis somos as notas de baixo; as graves. Sim, ao longo da nossa vida ocupamos todas essas posições. E nós só temos de lutar para que a nossa música seja digna de ser ouvida, e de ser cantada. Porque quem a ouvir tem de se apaixonar por ela. E quem a cantar tem de ter orgulho no que está a contar, e a cantar. A nossa música tem de ser emocionante, vivida, e apaixonante para que isso aconteça. Caso contrário, nunca ninguém nos vai lembrar, porque ninguém vai idolatrar a nossa música sem emoção, porque ninguém tem interesse numa vida monótona sem surpresas.
E a minha música? Bem, compasso binário, clave de fá, algumas pausas no meio, imensos altos e baixos. Acho que isso chega para todos imaginarem como é a minha vida. E tenho orgulho nela; não a trocava por nada, nem que me oferecessem de mão beijada uma vida perfeita, em que não tivesse de fazer nada para ter o que quero. Gosto dela, e gosto da música que estou a fazer. E isso é o mais importante, sem dúvida que é.
E agora pensem: como é que a música pode ser tão semelhante às nossas vidas? E eu respondo: a música é inspirada em momentos marcantes da vida de alguém. É isso que lhe dá alma. Sempre.

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